14 outubro 2008

Chega de Saudade

Minha infância foi moleca. Brinquei de tudo que podia, e conseguia. Fiz, tudo mal, mas fiz, com a maior alegria. Gostava de soltar pipa, rodar pião, jogar bola e bola de gude, nada porém tinha excelência, algumas coisas eram sofríveis mas me divertia. Não tenho saudade da minha infância, tenho apenas nostalgia.
Na minha adolescência tentei fazê-la a mais adolescente possível. Ria de tudo, sofria aos berros com algumas coisas que me afetavam, e agia com irresponsabilidade natural em alguns momentos. Não tenho saudade da adolescência, tenho apenas nostalgia.
Cheguei a minha juventude e desfrutei de uma outra forma. Casei-me cedo, e me tornei pastor quase ao mesmo tempo. Fui auxiliar já aos 24 anos de idade, e isso me causou alguns transtornos, assumi uma responsabilidade muito grande e pior, assumi uma postura legalista, em diversos momentos. Mas gostei da minha juventude, porque ria, fazia rir, assumia novas posturas, caía, levantava e aprendia. Foi maravilhosa a minha juventude. Mas nao tenho saudade dela, tenho apenas nostalgia.
Agora, na quarta década, assumo um outro perfil. Tenho que ser maduro, preciso ser resolvido em algumas questões que foram dramáticas em minha vida. A maturidade contudo serve para fazer você olhar para trás e saborear a vida com um outro gosto.
Hoje me aconchego a minha propria alma e percebo que a única coisa que dispenso de minhas fases passadas, são as seguintes:
a) Da minha infância dispenso a criancice de querer tudo para mim. De achar que o mundo gira ao redor de meu nome e que sou o centro de tudo. Essa infantilidade que muitos carregam anos a fio, mesmo tendo deixado a infância para trás, gera as mais ridículas e patéticas cenas dentro das igrejas, dentro das casas, dentro das empresas e tudo o mais. Adorei ser criança, mas concordo plenamente com Paulo "me tornei homem, deixei as coisas de menino". Quantos insistem em querer que o mundo gire ao seu redor o tempo inteiro, como se fossem o centro do universo?
b) Da minha adolescência dispenso a futilidade, irresponsabilidade e a volubilidade. Por quê depois de adulto vou querer comer e beber nos restaurantes da vacuidade? Por quê me tornaria escravo de opções vazias, que jamais vão preencher as mais profundas necessidades de minha alma? A irresponsabilidade também nào tenho saudades. Por quê jogar fora o que construiu, por decisões insanas? Por quê debochar de tudo que está a sua volta? Por quê transformar a Igreja num palco de minhas subidas e descidas desvairadas, sem compromisso nenhum com a fé que digo professar? E Chega de ser volúvel. Não posso sair por aí acreditando em todo o vento de doutrina que sopra sobre meu rosto e que vira as páginas de minha teologia. Me tornei adulto exatamente para não ficar sendo levado daqui para ali em todos os modismos teológicos e mais, em modismos existenciais que me chamem para vivenciá-los, não quero mais isso.
c) Da minha juventude dispenso o legalismo. Como me envergonho das vezes que tive que obedecer a determinadas regras impostas, que enfeiavam minhas mais singelas convicções de fé, de vida e alma. Era um jovem idealista, mas me deixei levar por uma religiosidade crocante, que fazia barulho ao ser mastigada com sabor. Eu dispensava "música do mundo", e tinha a "obrigação" de fazer meus amigos entrarem para os quartos nos retiros de carnaval, afinal de contas, eu era pastor. Desprezo meus deslizes, mas sobre eles digo que me sinto muito mais confortável do que com meu legalismo. Explico: O legalismo me impunha fazer coisas para os outros verem, que jamais me mudaria por dentro. Os meus deslizes me impuseram dor, vergonha e mágoa, mas sempre alterando um pouco, e para a melhor, aquilo que eu era por dentro.
Portanto, chega de saudades, ou nostalgias. O melhor da vida é para ser vivida na plenitude do tempo. Quero agora viver o melhor dos meus dias, até que outros erros me corrijam a caminhada, até que minha teologia seja fortificada pela fé singela, simples na pessoa de Deus, até que minha família cresça e amadureça para correr os riscos que eu também um dia corri para crescer. HOje, definitivamente, não é tempo de saudades, no máximo de nostalgia, para logo depois acordar e perceber que "nem olhos viram, nem ouvidos ouviram, o que Deus preparou para aqueles que o amam". E eu O amo.

7 comentários:

Pr.Wellison disse...

Como tenho feito, vou postanto os comentários que chegam a minha caixa de email. E como sempre, preservo apenas os nomes.

Pr.Wellison disse...

Que lindo Wellison, adorei.

Beijos
Flórida - EUA.

Pr.Wellison disse...

MUITO BOM, E ISSO É O QUE O SENHOR QUER DE VC. RECORDAÇOES POSITIVAS E NEGATIVAS, MAS APENAS - APENAS RECORDAÇOES DA NEGATIVAS E "ORGULHO" DAS POSITIVAS.
NIlópolis - RJ

Pr.Wellison disse...

Querido Wellison,

Gosto muito de ler os seus artigos. Percebo que sai de um coraçao sincero e sem máscara. Obrigada por compartilhar comigo um pouco de voce mesmo. Gostei muito deste, embora quando estiver pessoalmente com voce, gostaria de conversar sobre o mesmo, apenas entender o que voce quer dizer com algumas afirmaçoes.
Flórida - EUA

Pr.Wellison disse...

Nossa! Lindo,lindo esse seu novo texto. Me emocionei. Parabéns
Abraços

Rio de Janeiro

sheila deolinda disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
sheila deolinda disse...

Bom sentir que estamos vivos, sonhando vivendo a cada passo da vida. Uma nova caminhada um novo sentido, que a nostalgia do que passou seja a alegria de ter vivido da melhor maneira.
QUE a sua familia e você sejam coroados de bençãos.
Graça e paz no senhor jesus cristo