27 fevereiro 2013

ESTOU COMEÇANDO A ACHAR QUE NÃO POSSO SER EU

Li o texto da jornalista Carmem Guerreiro, divulgada no meu face pela Marcia Heringer. Li com gosto, e com deliciosa surpresa o texto "A arrogância segundo os medíocres". Destaquei um trecho das palavras da autora: "Essa censura intelectual me deixa irritada. Isso porque a mediocridade faz com que muitos torçam o nariz para tudo aquilo que não conhecem, mas que socialmente é considerado algo de um nível de cultura e poder aquisitivo superior. E assim você vira um arrogante. Te repudiam pelo simples fato de você mencionar algo que tem uma tarja invisível de 'coisa de gente fresca'.".
Guerreiro se referia a um gesto quase de reprovação sobre a compra de um sapato que fez na Colômbia. Segundo ela, se tivesse dito que teria comprado na 25, em Sampa (lugar onde tudo é barato), ela teria a mesma alegria por usar algo que gosta e os que a reprovaram, também, porque assim ela seria super "popular".
Vou ser honesto, queria ter escrito o que ela escreveu, mas como não pensei, não consegui e minha capacidade intelectual não alcançou, vai aqui o que penso também sobre o tema.
Almoçava com alguns amigos, no meu aniversário. Escolhi um restaurante super legal, aliás, digamos apenas legal, para comemorar com eles, enquanto dois desses amigos, brincando, é claro (mas razoavelmente sérios), diziam que eu era metido por escolher lugares como aqueles. (Verdade, por que no dia do u aniversario eu nao escolhi a praça de alimentação de um shopping, onde pessoas super educadas ficam em pé ao seu lado, esperando você acabar de comer, e torcendo sair rápido?).
Eu, metido??!!!! Me surpreendi com a acusação vindo de um que só usa sapato de pelica (que eu jamais tive coragem de pagar por um) e outro que escolheu morar num dos bairros mais emergentes da cidade (enquanto eu moro ainda num apartamento pequeno, mal mobiliado e simplório, que é mais do que simples).
Se falar que viajei para fora do país, sou metido. Então falarei de minhas incursões a Nova Iguaçu e Queimados, para ser popular? Se estudei no exterior é crime? Omitirei minha passagem lá fora, e lembrarei apenas da faculdade que fiz no Riachuelo.
Não posso dizer que escrevi livros, serei o autor mais desconhecido, ou usarei um pseudônimo, e manter-me-ei escondido - manter-me-ei é de gente fresca - me manterei, como Bruce Wayne ou Peter Parker.
Ah e não quero mais conversar em inglês com ninguém, para treinar, antes que esqueça tudo de vez, e vou me obrigar a conversar em português - e para ser popular, de verdade, começarei a dizer "para mim fazer", porque me aproximo das classes sociais e não serei visto como um arrogante que usa o conhecimento para ser melhor do que o outro. E ao encontrar um americano, farei gestos, e tentarei usar as libras para me comunicar.
Por que as pessoas reprovam aquilo que não curtem ou não conhecem? Por que as pessoas tendem a estereotipar os outros? Por que, informalmente pessoas se tornam vaidosas apenas porque lutaram por aquilo que sonharam?
Já tive muita vaidade, confesso. Mas a vida me ensinou a valorizar pessoas e não coisas. Tudo que aprendi tenho usado para servir pessoas. O conhecimento que adquiro, até hoje, é para comunicar de forma simples, a única coisa que vale a pena na minha vida: o evangelho.
As roupas que visto, compradas em sua maioria, em lojas simples da cidade, revelam o meu gosto, não o meu caráter.
Até quando teremos que mentir sobre nós mesmos, para sermos aceitos por aqueles que não curtem o nosso jeito de viver e encarar a vida? Até quando teremos que parar de comer sushi, e partir para a buchada de bode para ser do povo? Até quando terei que lutar para eu não ser eu mesmo?
Até quando as pessoas continuarão a ter carros maravilhosos, sem gasolina, casas fantásticas sem comida, e famílias fotogênicas sem alegria?
Olha, não me roubem a alegria de ser eu mesmo, está bem? Demorou mais de 4 décadas para Deus esculpir-me até agora, e eu dei muito trabalho a Ele e a mim mesmo, para ser o que sou.

Nenhum comentário: