26 setembro 2007

O que eu perguntaria ao presidente se um dia pudesse entrevistá-lo.


Imaginei isso diversas vezes, mas na verdade nunca quis escrever, porque as vezes quando via o presidente brasileiro dar entrevistas coletivas, sempre muito raras, ele fugia da maior parte das perguntas. Respondia pausadamente gastando o maior tempo do mundo para não responder as questãos que, de fato, mereciam respostas. Os jornalistas limitados pelo relógio não podiam insistir em assuntos importantes, e os temas de interesse nacional se perdiam na voz do presidente. Juntei as perguntas às respostas que comumente o presidente dá, mas inclui a insistência que infelizmente não é possível encontrar em jornalista algum.
Imaginei então, eu descomprometido de tudo, fazendo as perguntas que de fato eram importantes serem feitas, com a insistência necessária para fazê-las:

Eu - Sr. Presidente, o senhor foi um fundador de um partido que sempre bateu demais no governo, principalmente com as questões éticas. Entretanto, em nenhum momento da história nenhum governo brasileiro teve tanta corrupção como o seu. O seu partido era uma mentira?

Lula - olha Wellison, isso tudo está vindo a tona porque o governo está agindo sério contra a corrupção. Nenhum governo prendeu tanta gente como no meu governo.

Eu - Mas presidente, o sr. se orgulha de prender tanta gente? Não seria melhor se orgulhar de seu governo e de seu partido não ter ninguém envolvido em tanta corrupção.

Lula - (...) silêncio.

Eu - Sr. Presidente, o sr. acredita que houve realmente o mensalão?

Lula - Olha caro Wellison, se houve ou não houve eu não sei. A PF está investigando, e se tiver os culpados pagarão por isso, se não tiver, nós não teremos feito mal a gente inocente.

Eu - Mas sr.presidente, o sr. milita na política brasileira desde a década de 70, o senhor realmente acredita que pagamento de propina a deputados pode não existir?

Lula - (...) silêncio.

Eu - Sr. Presidente, o seu filho Fábio é sócio da produtora Gamecorp, ex-G4, que recebeu, em janeiro deste ano, um investimento suspeito de R$ 5 milhões da empresa de telefonia Telemar, intermediado pelo sr.Trevisan, que é do CONSELHO DE ÉTICA PÚBLICA DA PRESIDENCIA. O sr. não acha ruim a família do presidente ser beneficiada pelo seu cargo?

Lula - Olha caro Wellison, meu filho trabalhou, e até o momento não há nada que prove alguma coisa ilegal quanto a este investimento do meu filho. Se houvesse a justiça já teria dito.

Eu - Mas presidente, o sr. não acha que além de ilegal, precisaria ser moral também? Se fosse o filho do presidente FHC, e o senhor estivesse na oposição, o sr. acharia normal?

Lula - (...) silêncio.

Eu - Sr. presidente, o seu governo já investiu em liberação de emendas, divisão de cargos públicos para conseguir votação favorável no Congresso?

Lula - Olha meu caro Wellison, o povo come hoje como nunca comeu antes. O trabalhador pode fazer planos para comprar o seu carrinho, coisa que não acontecia há muito tempo neste país. As balanças comercias estão altíssimas, e o Brasil está sendo respeitado hoje.

Eu - Mas presidente, o governo, através de sua liderança, procura deputados, senadores e oferece cargos e liberação de verbas nas emendas para ganhar votos para aprovação de seus projetos?

Lula - (...) silêncio.

Eu - Sr. presidente o senhor e seu partido sempre foram contra a CPMF, e contra a taxa de impostos impiedosa do Brasil. O que mudou, que o faz lutar para manter o imposto? E mais, por que o seu governo aumentou ainda mais a taxação no Brasil?

Lula - Olha meu caro Wellison, o Brasil está crescendo. Eu cresci também. Algumas coisas que eu achava que podia, nao podia, e algumas coisas que eu achava que não podia, podia. O Brasil está voltando a crescer. Estamos modernizando os aeroportos, e estamos modernizando os portos brasileiros. Iniciamos projetos sociais importantes em todo o país. Meu sonho é terminar meu mandato com uma ampliação de redes de ensino no país.

Eu - sim, presidente, e as taxas que aumentaram e a CPMF que o sr. lutou para o Brasil não ter?

Lula - (...) silêncio.

Eu - Sr. presidente, o gasto público aumentou e nomeações se espalharam por todo o país. O sr.acha justo o governo se tornar um cabide de emprego para partidários do PT ou coligados?

Lula - Olha meu caro Wellison, estamos crescendo. Isso é que precisamos olhar. Há muitos pessimistas de plantão que estão torcendo para tudo dar errado, porque aí vão poder falar do governo. E não é assim. É bom ver este crescimento em todo o país, de norte a sul.

Eu - Sim, presidente eu perguntei sobre o governo ser um cabide de emprego.

Lula - (...) silêncio.

Eu - para terminar presidente, tres questões numa só: o senhor acha que o Senador Renan Calheiros deveria se afastar dos cargos, já que pesam sobre ele várias acusações? O que o sr. achou da decisao do Senado? E mais, o que o sr. achou do número de senadores que disseram ter votado pela cassação ter sido maior do que número de votos, alguns senadores mentiram?

Lula - Olha meu caro Wellison, se mentiram eu não sei, acho que eles são responsáveis, e não iriam fazer isso. Mas acho que temos que respeitar a decisao do Senado e por uma pedra final nisso. Somos um país democrático e eles acharam que o Renan não tinha culpa, temos é que fazer o senado andar, porque temos coisas importantes para serem votadas lá.

Eu - sim sr. presidente, mas o senhor acha que ele deveria se afastar ou não?

Lula - (...) silêncio.

Eu - Muito obrigado sr. presidente pela entrevista.


O texto é fictício, como disse, é a vontade de perguntar o que ainda nao foi respondido.

Wellison M. Paula é formado em teologia, jornalismo e é escritor. Lançou recentemente na Bienal do Rio o livro "ser pai é bom, mas ser bom pai é melhor ainda - o alfabeto da boa paternidade".

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