14 outubro 2006

aqueles olhos no sinal

Estava indo à Barra, eram 10 da noite. Parei no sinal, na Ayrton Senna, na entrada para o Hospital Lourenço Jorge. De repente uma cena de lugar comum no Rio de Janeiro, crianças pedindo dinheiro, na janela de nossos carros.
Mas aquela menina, que parou ao meu lado, era linda. 10 anos de idade, cabelos alá Vanessa Da Matta.
- me dá 10 centavos, disse ela.
- cadê seus pais? perguntei.
- meu pai morreu, minha mãe está ali vendendo bananada.
- você é linda, eu disse.
Ela riu, mas foi correndo em direção a calçada, perdida no meio da noite, como milhares de crianças se perdem, todos os dias.
E se eu fosse um bandido?
E se eu fosse um estuprador?
E se eu fosse um mercador de meninas?
O olhar daquela menina, contraria a lógica. Era um olhar de menina, mas tinha trabalho de gente grande. Eram 10 da noite, era um sinal de trânsito, e ela era linda.
Até quando veremos políticos carregarem dólares nas cuecas, enquanto meninas lindas e meigas precisam dormir às 2 da manhã para ganhar a vida?
Até quando homens e mulheres serão tão egoístas, pensando apenas em casacos de pele e clubes caros, enquanto meninas transitam na madrugada de nossa cidade?
Até quando as igrejas continuarão disputando espaços, brigando entre si, enquanto meninas inocentes disputam as ruas de nossa cidade?
Jeremias diz que o Senhor chora pelas meninas e meninos de peito que choram de fome pelas ruas da cidade.
Aqueles olhos no sinal revelavam apenas que tenho muito o que fazer, de verdade, em nome de Deus.
Revelam apenas que enquanto cristão nao tenho o direito de gastar minha vida pensando em mim mesmo, mas pensar no Reino.
Aqueles olhos no sinal, não eram apenas os olhos de uma menina linda, eram os olhos de uma menina sozinha, pedindo por vida, por uma vida que infelizmente muitos ajudaram a roubar e de uma infância que alguns insistem em não querer devolvê-la.
Paz e graça
Pr.Wellison M. Paula

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